Trinta e Sete | Susana de Medeiros
6 ABR. – 16 MAI. 2021
Museu Municipal de Faro
Praça Dom Afonso III 14, 8000-149 Faro
Horário: 3ª. a 6ª das 10h00 às 18h00 / Sáb. e Dom. das 10h30 às 17h00.
(última entrada 30 minutos antes de encerrar)
Encerra 2ªs e feriados
Após mais um período de confinamento, a parceria Artadentro/Museu Municipal de Faro, retoma o ciclo de arte contemporânea Eklektikós, com a apresentação da exposição Trinta e Sete, de Susana de Medeiros.
Trinta e Sete designa uma linha imaginária tomada como ponto de partida a que corresponde um mesmo grau de latitude em ambos os hemisférios. A artista fala-nos de latitudes espelhadas, de dois territórios situados em latitudes parcialmente coincidentes: entre 36º a 38º Norte no Algarve e 37º a 40º Sul no Chile – nas regiões de Bio-Bio, Araucania e Los Rios. É esta geografia que delimita o território de investigação artística de Susana de Medeiros, que toma o território como um laboratório em que “a deslocação” é instrumento cognitivo e projectual que gera conhecimento.
De facto, a hipótese que Susana de Medeiros coloca ao sugerir que “perder o norte magnético pode ser uma metodologia a adoptar no seio do processo artístico”, que propicia novas interrogações sobre o papel do artista na sociedade contemporânea, está bem presente nesta exposição. Estará a artista a meio caminho entre o narrador, o etnógrafo e o activista?
Uma hipótese de resposta a esta e outras questões, poderá ser encontrada quando dos passeios/caminhadas — parte integrante desta exposição —, na tradição da escola peripatética grega e, também, sob a influência do pensamento de Nietzsche ou das derivas situacionistas, a realizar em 2, 16 e 23 de Maio:
Em MAIO – aos Domingos no Barlavento Algarvio:
Passeios /caminhadas com percursos circulares não superiores a 8 km
2 de MAIO – MANHÃ – 10h30 – Concelho de Vila do Bispo
– Orientado por Catarina Oliveira e Mara Taquelim
Local de encontro: à entrada da Salema (Budens) junto à paragem de autocarro
16 de MAIO – MANHÃ – 10h30 – Concelho de Aljezur
– Orientado por Susana de Medeiros, Christin Lidzba e Ana Celorico Machado
Local de encontro: Café André (a cerca de 8 km de Aljezur)
23 de MAIO – TARDE – 15h00 – Concelho de Vila do Bispo
– Orientado por Ana Carla Cabrita e Beatriz Cardoso
Local de encontro: Ermida de N. Sra. de Guadalupe
Quem por isto se interessar, para se inscrever e/ou obter mais informações, deve contactar a Artadentro através do e-mail: artadentro@hotmail.com.
Sobre a artista:
Susana de Medeiros é Licenciada em Direito pela Universidade de Coimbra e em Artes Plásticas pela ESAD_CR (anterior ESTGAD – Caldas da Rainha), é também bacharel em Belas Artes pela Universidade de Nottingham Trent, Nottingham, Inglaterra. Frequenta várias formações na área do movimento e da dança contemporânea e na área da cerâmica. Desenvolve projectos de educação não formal em artes visuais e performativas e em cinema. Lecciona no ensino universitário, na licenciatura em Artes Visuais (DAH/FCHS) da Universidade do Algarve (desde 2007). Frequenta o doutoramento em Artes Plásticas da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Entre os locais onde desenvolveu projectos como artista plástica destacam-se Cuenca (Espanha), Maputo (Moçambique), Nottingham (Inglaterra), Nova York (E.U.A.), São Petersburgo (Rússia) e Portugal.
O outro dos outros
Em 1953 Marcel Duchamp tornou público um dos mais admiráveis aforismos que pude conhecer: a guest + a host = a ghost. Desde então fascinou-me a ideia, lançada por esta contracção de palavras, de experimentarmos uma simultaneidade quase impossível: sermos hóspedes temporários na casa de outrem ao mesmo tempo que, enquanto anfitriões, recebemos a visita de alguém.
Trinta e sete, a mais recente exposição de Susana de Medeiros, constrói-se nesta (im)possibilidade. No lugar de espelhar um confronto entre duas latitudes distantes – Portugal e Chile — prefere produzir uma sobreposição, como um efeito de reflexo sobre vidro devolvendo duas realidades reminiscentes numa única imagem. Uma imagem comum. Parda. Quase sempre fantasmática.
Este encontro poético e/ou político entre territórios só é verdadeiramente possível graças a um exercício ecológico de descentramento e atenção ao outro. Uma vontade de percorrer distâncias para as eliminar porque a Susana, tal como Clarice Lispector, já há muito compreenderam a sabedoria dos anciãos: o caminho não somos nós, é outro, são os outros. Afinal o outro dos outros sou eu.
Porto a 1 de Março de 2021.
Samuel J. M. Silva
Thirty-seven
From April 6 to May 16, 2021
Museu Municipal de Faro
Praça Dom Afonso III 14, 8000-149 Faro
Tuesday to Friday. 10 am – 06 pm / Saturday and Sunday. 10.30 am – 5 pm.
Closed Monday and Holidays
The other of the others
In 1953 Marcel Duchamp made public one of the most admirable aphorisms I was able to discover: a guest + a host = a ghost. Since then, I was fascinated by the idea, launched by this contraction of words, of experiencing an almost impossible simultaneity: being temporary guests in someone’s home while, as hosts, we receive the visit from someone.
Thirty-seven, the latest exhibition by Susana de Medeiros, is built on this (im) possibility. Rather than mirroring a confrontation between two distant latitudes – Portugal and Chile – the artist prefers to produce an overlap, like a reflection effect on glass, returning two realities reminiscent in a single image. A common image. Dimmed. Almost always ghostly.
This poetic and / or political encounter between territories is only possible thanks to an ecological exercise of decentralization and attention to the other. A desire to travel distances to eliminate them because Susana, like Clarice Lispector, has long understood the wisdom of the elders: the path is not us, it is another, it is the others. After all, the other of the others is me
Porto, the 1st of March, 2021
Samuel J. M. Silva