Lisbon Revisited | Edgar Pêra

fotografia de Edgar Pêra, da série Lisbon Revisited
fotografia de Edgar Pêra, da série Lisbon Revisited
fotografia de Edgar Pêra, da série Lisbon Revisited
fotografia de Edgar Pêra, da série Lisbon Revisited
fotografia de Edgar Pêra, da série Lisbon Revisited
fotografia de Edgar Pêra, da série Lisbon Revisited

Inauguração: — 28 Nov. 2019 às 18H00
exposição de fotografia 3D

De 28 Nov. 2019 ­­- 25 Jan. 2020
Galeria Trem, Faro

Lisbon Revisited, é uma exposição de fotografia anaglífica da autoria de Edgar Pêra a apresentar na Galeria Trem, integra o ciclo de arte contemporânea “Preces para afugentar tempestades, insectos malignos, etc.”, organizado pela Artadentro em parceria com o Museu Municipal de Faro.

Esta exposição “Lisbon Revisited” está inserida no programa Zoom In: Edgar Pêra, um projecto do Cineclube de Faro a acontecer dias 28, 29 e 30 Novembro 2019. (ver programa completo aqui)


Lisboa , re-visitada . 2o16

abre-se a janela
corre uma aura romântica
através da cortina bicolor e
se fecha logo (mas já entrou
. abre-se para que saia e
penetra outra com pós
modernos (os germes
vêm sempre já com nomes
e uma equipa de especiais
que lá fora provam o ar
e o respiram para conclusões
talvez teóricas talvez piores
que as anteriores

*

A minha consciência da cidade é, por dentro, a minha consciência de mim.
(397 LD)

No Edgar Pêra encontro muitos traços que reflectem uma identidade sobreposta à minha. Sofro, por essa proximidade, de um pudor que decorre, ao falar do seu trabalho, de me sentir expor algo que preferiria talvez ver resguardado. Será talvez da semelhança derivada dos já muitos anos de amizade, da afinidade que a permitiu, do similar apego a certas referências culturais que fomos perseguindo — de que Pessoa é talvez uma (ainda se discreta) das peças centrais.

No entanto, também creio que seja da convivência marcada pela cidade em fundo, a Lisboa que habitamos desde que nascemos — e que Pêra já de vários modos tem abordado, desde A Cidade de Cassiano (1991), passando por A Janela (2oo1), até ao mais recente Lisbon Revisited (2o14) —, de que agora oferece uma perspectiva quase estática.

Virá talvez esse habitar, tanto quanto creio, de uma disposição para aprender e descobrir, redescobrir e reaprender, fazendo-se estrangeiro em casa própria; sentindo-a e vivendo-a diferentemente, i.e., com diferente alma — pois, a “única maneira de teres sensações novas é construíres-te uma alma nova” (3o1 LD). Esta exposição é, parece-me, o reflexo dessa dupla procura, por uma ‘alma nova’ e por uma diferente Lisboa : é uma prova da habitação que nunca se instala como hábito.

E o que nos mostra são lugares eles mesmos de re-visita : jardins, miradouros, cemitérios… lugares e seres mudos — aves, esculturas, árvores e arbustos… mesmo o macio Tejo ancestral — é mudo . Companhias simbólicas de quem já esteve, de quem estará… do que fica. Lugares sem ninguém mas não desabitados, não cenários vazios : palcos que permanecem e sobrevivem à gente que devém.

Imagens de lugares que através da sua apresentação fotográfica podem agora ser re-povoados, re-habitados pelo olhar. Primeiro procurar-se-á ultrapassar o choque estético imediato — do que se dá ‘desfocado’ mas estranhamente atractivo, com qualidade plástica suficiente e autónoma ; depois chegar-se-á a outro, proporcionado pelo visor anaglífico, na evidente ilusão (ajustável) de uma profundidade que apenas sublinha o carácter estatuário da vida, o seu aspecto perpétuo. Parte da nostalgia que emana destas imagens quase objecto advém daí… por isso, também um certo sentimento de déjà vu. E, ainda por isso, imagens que surgem quase estáticas no seu constante requisito de duplicidade entre o olho nu e a mediação das cores — óculos que permitem sentir diferentemente.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!

escreve Campos em 1923… e é difícil estar mais de acordo. Também perante as imagens que Pêra pirateou ao seu Lisbon Revisited ninguém carece sequer de qualquer pré-conforto explicativo.  Ainda que não deixe de ser o cineasta que é, Edgar Pêra oferece nesta exposição uma perspectiva plástica rara — e uma muito gratificante e singular experiência — que não o inibirá, no entanto, de dizer : “sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
” Já eu, que o conheço bem, acrescentaria que, fora isso (e, por dentro, na sua cidade de si), também ele é “doido, com todo o direito a sê-lo.
/ Com todo o direito a sê-lo, ouviram?”

Manuel Rodrigues
15.o2.16