António Olaio still do vídeo Gods Planet
António Olaio pormenor da instalação Gods Planet
Tiago Batista pormenor de máquina de desenhar
Tiago Batista pormenor de máquina de desenhar
Tiago Batista pormenor de máquina de desenhar
XANA pormenor de desenho
XANA pormenor de desenho


O Lápis Mágico
António Olaio, Tiago Batista e Xana.

Curadoria de Pedro Cabral Santo

Museu Municipal de Faro
De 27 de Novembro até 17 de Janeiro de 2021


O Lápis Mágico”

“O Lápis Mágico”, em homenagem à série televisiva dos anos 70, no original “Zaczarowany Olowek”, foi uma produção de origem polaca, com episódios muito curtos (8/9 minutos), tendo como personagem central um menino que tinha recebido de um “amigo” duende um lápis com capacidades mágicas. O Lápis possibilitava a materialização de tudo o que este desenhava, objetos, animais, etc., na companhia e cumplicidade do seu fiel cãozinho amarelo, transportando-nos, assim, enquanto metáfora, para territórios absolutamente fabulosos, festivos e também pragmáticos que são, na contemporaneidade, domínio do(s) território(s) do(s) Desenho(s).

Na realidade, “O Lápis Mágico”, ou melhor – a “inteligência de quem sabe desenhar”, faz parte de um longo e singular percurso que se encontra filiado/ancorado ora na tradição, ora na filiação artística e também entrelaçado nas inúmeras aventuras interpessoais de muitos autores/construtores edificadas ao longo dos tempos. Paulatinamente, estes foram capazes de transformar o Desenho, face às suas múltiplas áreas de utilização, numa eficaz ferramenta expressiva, de intenso e singular valor, caracterizando-o assim, indiscutivelmente, e por direito próprio, como Categoria Artística Absoluta. O Desenho não foi só capaz de se autonomizar,é certo inserido numa plêiade de aventuras, como dissemos, cujo desenlace se deu com o virar de página, em meados do séc. XIX e consequente atuação do projeto modernista no que diz respeito aos seus propósitos, mas também eficaz na ordenação das Próprias Hierarquias Artísticas. Desse modo, ao “imiscuir-se” massivamente no tecido artístico acabou por alterar todo o rumo expressivo afeto às Artes Visuais.

O Contexto do séc. XX artístico acabaria por ser, como refere a professora e artista Tania Kovats, o palco deste “desenho” renascido, revigorado, ousado e munido do seu arsenal ideológico – o Desenho ajuda-nos, assim, a traduzir o Mundo, em termos formais, sem craft(Matisse), dando-nos a conhecer, em simultâneo, a forma, o processo e o modo como o pensamos. Só o Desenho é capaz de fazer isto! Ou como diz David Hockney, o Desenho é, antes de mais, pura manifestação de uma máquina neurológica que possuiu a capacidade de compreender o mundo de acordo como o apreendemos e o vemos. Quando usamos máquinas para desenhar – continua –, estamos a tentar normalizar formalmente o Mundo, e daí também não vem mal nenhum ao mesmo. Voltando ao “Lápis Mágico”, o menino usava-o em dois contextos que alternavam entre a Representação e o Puro Pensamento Visual das “coisas” do Mundo, justamente como acontece com a presente mostra de trabalhos, realizados pelos artistas Tiago Batista, Xana e António Olaio. Autores a quem um “amigo” duende, em certa altura, lhes deu um “Lápis Mágico” e com o qual foram capazes de estabelecer limites SEM FIM de pura cumplicidade COM ESTE FABULOSO MEIO DE EXPRESSÃO.

Pedro Cabral Santo


Sobre os artistas:

António Olaio (1963, Sá da Bandeira, Angola). Vive em Coimbra. Professor no Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, é Director do Colégio das Artes e investigador do Centro de Estudos Sociais da UC. Performer e fundador do grupo Repórter Estrábico em 1986, e, desde 1995, as canções que compõem com o músico João Taborda integram frequentemente os seus vídeos e exposições.

Tiago Baptista (Lisboa, 1967). Professor do Curso de Artes Visuais da Universidade do Algarve. Paralelamente à actividade pedagógica que desenvolve desde 1997, expõe a sua obra em exposições colectivas e individuais desde 1991, em Portugal e no estrangeiro.

Xana (Lisboa, 1959), em 1984 licenciou-se em Artes Plásticas / Pintura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Também em 1984, integra o grupo Homeostética. É professor no Curso de Artes Visuais da Universidade do Algarve. Explora o desenho, a pintura, escultura, instalação, cenografia e performance. Expõe desde 1981, e a sua obra integra importantes colecções nacionais e internacionais, e inclui várias intervenções em espaços públicos.