Vinte e Cinco Palavras ou Menos | Luís Palma
15 AGO. – 15 SET. 2024
Inauguração: 15 de Agosto, às 17.30h
Museu Municipal de Faro
Praça Dom Afonso III 14, 8000-149 Faro
Horário: 3ª. a 6ª das 10h00 às 17h30 / Sáb. e Dom. das 10h30 às 16h30.
Encerra 2ªs e feriados
É com a obra de Luís Palma (Porto, Portugal, 1960) que retomamos o ciclo de arte contemporânea Reset 23/24, com curadoria da Artadentro em colaboração com o Museu Municipal de Faro. Luís Palma tem a fotografia como sua principal forma de expressão artística. Frequentou o curso superior de fotografia da ESAP, no Porto e a sua obra tem sido divulgada em numerosas edições monográficas e exposições em Portugal e no estrangeiro.
VINTE E CINCO PALAVRAS OU MENOS
O título deste projecto foi inspirado na ideia de Iggy Pop para a criação das letras dos Stooges¹. Ocorreu-me durante a produção de um conjunto de fotografias de grande formato, tiradas no interior de uma rulote que servia de morada a um músico. Nesse espaço exíguo este ensaiava músicas do tempo em que tocava bateria em bandas de covers. Apresentei este projecto pela primeira vez na exposição colectiva We Want Electricity, na Galeria Pedro Oliveira, em 2021². Para além dessas fotografias a cores, incluí um conjunto de imagens mais antigas a preto-e-branco e também uma pequena instalação onde, numa mesa com tampo de vidro, expus uma fotografia que tirei ao Joe Strummer nos bastidores de um concerto dos Clash, em 1981, a baqueta partida do baterista Topper Headon e uma fotografia de um soldado em Cabinda a tocar guitarra, sentado no amplificador do próprio instrumento, pousada numa das páginas do livro Nixon e Caetano: Promessas e Abandono, acompanhada, na página oposta, por duas imagens: uma do Capitão Salgueiro Maia e outra do Major Otelo Saraiva de Carvalho.
Na associação dessas fotografias e desses objectos revejo o tempo em que se cruzaram as narrativas políticas da Revolução de Abril de 1974 e o fim da Guerra Colonial, por um lado, e, por outro, o imaginário da estrada da Beat Generation e a poética pós-punk, utopia – por não querer nem governo nem Estado – que a Liberdade tornava agora acessível a uma juventude inconformada com o passado ligado a uma sociedade autoritária e ao preconceito social de que nos fala o filme Verão Escaldante.
Ainda longe de imaginar a relação que este projecto teria com o filme de Spike Lee, estabeleci no início da década de 1990 uma colaboração com transexuais e jovens com Sida para realizar uma série de retratos de estúdio que esta série igualmente documenta. O confronto entre o disco sound e o movimento punk, a transexualidade e o aparecimento do síndroma de Kaposi testemunha os vícios de uma geração posterior ao tempo em que o gesto de resistência assumia uma importância incomparável para afirmar a suspeita de existir, teimando no improviso e contornando a censura na clandestinidade³.
Luís Palma
¹ “Quando comecei a escrever canções para a nossa banda, pensei ‘este é o caminho’. Tentar não ultrapassar 25 palavras diferentes ou menos. Não me via como Bob Dylan. Tentar fazer a coisa mesmo curta. Desse modo, nada haverá a apontar.” Documentário Gimme Danger, do realizador Jim Jarmuch, EUA, 2016.
² A exposição, com curadoria de Susana Lourenço Marques, ocorreu no âmbito da programação Situação 21.
³ Susana Lourenço Marques, folha de sala da exposição We Want Electricity, Porto: Galeria Pedro Oliveira, 2021.
Twenty-Five Words or Less
The title for this project was inspired by Iggy Pop’s concept for writing the Stooges’ lyrics.¹ It occurred to me while producing a series of large-format photographs that I had taken inside the trailer home of a musician. In this cramped space he practised songs from when he played the drums in cover bands.
I first presented this project in a collective exhibition called We Want Electricity, at the Pedro Oliveira Gallery, in 2021.² In addition to these colour photographs, I included a series of earlier black-and-white images and a small installation. in which, on top of a glass-topped table, I displayed a photograph of Joe Strummer taken backstage at a Clash concert in 1981, a broken drumstick from drummer Topper Headon, and a photograph of a soldier in Cabinda playing guitar while sitting on his amp. The latter was laid on a page of the book Nixon e Caetano: Promessas e Abandono, accompanied, on the opposite page, by two photographs: one of Captain Salgueiro Maia and the other of Major Otelo Saraiva de Carvalho.*
By associating these objects and photographs, I revisited a time when various paths crossed. On the one hand, the political narratives of the end of the Colonial War and the emergence of the April 1974 revolution, and on the other, the road imagery of the Beat Generation, and the musical poetics of post-punk, a utopia which freedom had made accessible to a disaffected young generation at odds with the authoritarian society and the social prejudices of the past, as portrayed in the film Summer of Sam (1999).
Little did I imagine the connections this project would have to the Spike Lee film when, at the begianning of the 1990s, I established a collaboration with transsexuals and young people suffering from AIDS to create a series of studio portraits, which this project also documents. The confrontation between disco and punk, and between transsexuality and the appearance of the Kaposi syndrome, bears witness to the habits of a generation from before the time when ’the act of resistance assumed an incomparable importance in affirming a suspected existence, insistently pursued through improvisation and shunning the censorship of secrecy’.³
Luís Palma
¹ “When I wanted to start writing songs for our group, I thought, ‘this is the way to go. Try to make it 25 different words, or less’. I didn’t feel like I was Bob Dylan. (…) I thought, ‘keep it really short and none of it will be the wrong thing’.” Documentary Gimme Danger, by director Jim Jarmusch, USA, 2016.
² This exhibition, curated by Susana Lourenço Marques, was held as part of the programme Situação 21.
³ Susana Lourenço Marques, guide for the exhibition We Want Electricity, Porto: Galeria Pedro Oliveira, 2021.
* Leading figures of the 1974 Revolution in Portugal. (T.N.)
Luís Palma (Porto, Portugal, 1960) studied high photography course at ESAP, in Porto. Photography is his main artistic media, but he has also worked with video. The author examines social and political issues, such as tensions occurring in the urban environments, industrial archeology or the occupation of territory, as well as portrait and landscape. Being one of the Portuguese photographers who have worked most intensely on these themes relating to territory, inequalities and the paradoxes associated with it. His work has been featured in several monographs and exhibitions, including Peripheral Landscapes, at Serralves Chapel, in 1998.
Among individual and group exhibitions, the following stands out: Paisajea, Industria, Oroimena, Museu San Telmo, Donostia, San Sebastián, Basque Country, Spain, 1999; Landscape, Industry, Memory, Centro Português de Fotografia, Porto, 1999; Seven x Seven x Seven, Fundación Telefónica, Madrid, Spain, 2001; Affective Memory #2, Centro de Artes Visuais, Coimbra, 2003; In The Beginning There Was The Journey, 28.a Bienal de Pontevedra, Spain, 2004; Territoriality, Galeria Presença, Porto, 2008; Occupation, Galeria Caroline Pagès, Lisboa, 2009; Collection, Domaine de Kerguéhennce, Contemporary Art Center, Bignan, France, 2010; Mapping, Memory, Politics, Fundação EDP, Porto, 2014; More Than a Square Meter: works from the Serralves Collection, Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto, 2021; We Want Electricity, Galeria Pedro Oliveira, Porto, 2021; Arrábida Bound, Insofar Art Gallery, Lisbon, 2021; Dark, Centro de Artes Visuais, Coimbra, 2023; Twenty‐Five Words or Less, Museu Municipal de Faro, 2024.