Thierry SimõesLeque Perfumado

  Assumindo o desenho como programa que envolve a vida num processo de permanente atenção e detenção de posições, transformações e momentos, Thierry Simões apresenta nesta exposição uma série de novos trabalhos que se distinguem pela sua qualidade de presença quase ausente, tanto quanto pelas ausências quase presentes que apenas enunciam. Respiração. Leveza. Agitação.

Respiração . O desenho no ar. Na quase ausência do ar em torno de cada traço e de cada figura; a presença quase ausente do movimento, do leque que se agita. Movimentos que se repetem na ascenção e queda do olhar pela superfície de cada folha. Na quase presença do perfume, que se regista nas palavras de dedicação — mais que na dedicatórias — com que Thierry regista e data, e com que desenha e escreve o processo e a intenção que seguiu. E a quase presença do lápis, que se revela através da sua passagem repetida no mesmo lugar . Inspirar e expirar. Aguça e traça. Pausar.

Leveza . O desenho pelo ar. Figuras humanas amigas. A qualidade do perfume. Imagens levemente desenhadas ; não forçadas à presença. Momentos de registo e de desejo, tão concentrados quanto dispersos — próximos, juntos, familiares. Aglomerados até à marca do gesto vincado, deixada no barro ; dispersos até ao corte e à separação no emolduramento. Agressão ligeira do ar pela leveza — na quase ausência da força do esforço, apenas o impulso original e a intenção que se continua. Agressão ligeira do ar pelo espaço — e a quase ausência de ocupação, na figura convidada e quase expulsa, que se percebe pelos contornos. Indícios na superfície. Uma ténue apresentação. Uma forte simplicidade.

Agitação . O desenhar do ar. O ar quase não resiste. Um perfume quase não sente. Cada desenho apela ao acompanhamento do seu movimento ; a atenção mantém-se dispersa e procura fixar-se. É-se levado a acompanhar o traço e a recuar até ao desejo que orientou cada um no seu momento — por isso ficam isoladas as figuras, como momentos especiais e diluídos. A agitação do ar passa em frente ao rosto, no olhar do espectador. Uma aragem que se dispersa e se concentra e volta a dispersar. Brevemente, presença e ausência. De passagem.

Um leque . Corrente de ar. Tomado como registo e assimilação de gestos e movimentos cruzados — do mundo a representar e do próprio acto de registar —, este conjunto de desenhos de Thierry Simões parece tocar as relações de vaivém entre a contiguidade e a interrupção, o afastamento e a aproximação, como constantes oscilações pendulares de um desejo estabilizado. O tempo como o ar. Aceitação e risco. E também o risco de aceitar.

Manuel Rodrigues Outubro 2003  


Nota de Imprensa

o leque perfumado

De 1 de Novembro a 22 de Novembro de 2003

Temos o prazer de anunciar a inauguração de uma exposição de desenho de Thierry Simões. Sendo a 2ª. exposição apresentada pela Artadentro, é a primeira em que a totalidade das obras é realizada dentro do espaço da galeria onde o artista residiu durante cerca de três semanas.

Thierry Simões nasceu em Paris em 1968. Em 1987 vem para Portugal passando a residir em Lisboa. Estuda pintura no Ar.Co de 1987 até 1990, e mais tarde, em 1998, realiza no Ar.Co o Projecto Individual na disciplina de Desenho. Após um período como professor convidado, passa em 2000 a professor efectivo do Ar.Co.

Embora a sua obra não tenha ainda obtido a atenção que merece, Thierry Simões é hoje em Portugal, um dos mais importantes artistas a praticar o Desenho como a sua disciplina plástica de eleição.

Para Thierry Simões o “desenhar não começa quando se agarra no lápis”, é “…un état. Une sucession d’états”. Assim sendo, tudo faz o desenho; o passado e o presente; o local onde se está, o que se come, com quem se está, a sua própria disposição interior, etc. Embora tudo isto seja válido para qualquer obra de qualquer artista, o que é importante para a compreensão da obra de Thierry Simões, é a utilização consciente destes factos, uma vez que o artista se coloca propositada e abertamente perante situações novas, dispondo-se física e mentalmente a tirar destas, de maneira natural, a sua própria obra.

ARTADENTRO, Vasco Vidigal