Tochas | Vasco Célio
VASCO CÉLIO
TOCHAS
De 28 de Março a 30 de Abril de 2018
Galeria Municipal de S. Brás de Alportel
A exposição de fotografia Tochas, de Vasco Célio, é apresentada no âmbito do ciclo de arte contemporânea Um Certo Ponto de Vista: um projecto Artadentro que integra o programa cultural 365 Algarve.
É ponto assente que, seja qual for a versão disponível, a origem da Procissão das Tochas Floridas assenta na coragem e/ou argúcia dos habitantes de S. Brás de Alportel: quando se tratou de defender a sua vila da agressão e do saque por invasores estrangeiros. Fosse a cachamorra ou a tocha, o certo é que se atingiu o objectivo com sucesso e, desde então, a vitória passou a ser festejada com alegria e exuberância, também com religiosidade, tendo a original vara sido substituída pela simbólica tocha floral.
Hoje, é não só a lenda mas também o fervor dos são-brasenses nesta celebração anual, o que motivou Vasco Célio a fazer o registo fotográfico exaustivo dos protagonistas da Procissão das Tochas Floridas: em traje de festa, sérios e felizes, de arranjo floral em riste, celebrando a tradição e a vida…
Durante a inauguração foi amavelmente proporcionada pela CVA – Comissão Vitivinícola do Algarve, uma prova dos melhores vinhos produzidos no Algarve,
VASCO CÉLIO
TOCHAS
S. Brás de Alportel Municipal Gallery (from March 28 to April 30, 2018)
Museu Municipal de Faro (from December 9, 2017 – until February 4, 2018)
Tochas, the photography exhibition by Vasco Célio, is presented in the context of the contemporary art cycle Um Certo Ponto de Vista (A Certain Point of View): an Artadentro project that integrates the 365 Algarve Cultural Program.
Since its early days, humankind has searched for ways of countering the anxiety of finitude and of death. This fight against the transient and the ephemeral, found expression in the most diverse artistic manifestations. Of all those manifestations, photography is, according to André Bazin, the one that most effectively allows for the salvation of being through its appearance.
The first announcement in Portugal of the photographic achievement, says well of the fascination with the possibility of embalming a fleeting moment: “The invention, or discovery of which we are going to talk, deserves both titles; the nature and the ingenuity of man, can find competence there. Nature appears by portraying itself, by copying its works as well as those of art, not in inconstant and fugitive presence panels, as were and are the rivers and the lakes, the stones and polished metals, but in a matter which retains the simulacrum of the visible object and repeats it with the most complete resemblance even after its absence…” (O Panorama, Jornal litterario e instructivo da Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Uteis, Februrary 16, 1839).
The body of work presented here, Tochas, by Vasco Célio, introduces the Easter ritual of the arrival of men with their lit up torches to participate in the ceremony of the Procession of the Flower Torches in São Brás de Alportel, Algarve.
Legend tells that over two centuries ago the inhabitants of São Brás de Alportel, facing the enemy approach of an invading fleet and the subsequent danger of looting, destruction and death, decided on a stratagem: at night, along the sea coast, with torches burning in their hands and others lined up standing on the ground, the villagers convinced the enemy that they were numerous and well-prepared, causing the fleet to cancel the landing and withdraw. These photographs, as “subject panels,” retain and presentify the ritual, just as the ritual itself does.
Beyond this timeless character, the images of the men photographed against the whitewashed walls refer to a long photographic tradition, in which we find references, reading insights, affinities: from Straight Photography to the charming candor of Antonio Gonçalves Pedro, or to the disarming sobriety of Rineke Dijkstra’s portraits. The nine photographs presented in this exhibition are part of a much more extensive collection produced by the author between 2011 and 2017. They assault us in their monumentality, facing us in their real scale, as if claiming: “Here we stand now, as we have more than four hundred years ago to bravely face death with light and flowers.” And in the end, what else is photography but light challenging the ephemeral?
Daniela Garcia
About the artist:
Vasco Célio comes from Lubango in Angola. He lives and works in Loulé, in the Algarve, the region where he has made a name for himself as a professional photographer and artist. He studied the History of Advertising Photography and Photojournalism, and did a postgraduate course in Arts and Cultural Programming at INUAF in 2007. Since 1996, he has been participating in individual and group exhibitions in Portugal and abroad, as well as in collaborative projects with other artists.
Tertúlia em volta das “Tochas”
(Uma conversa em volta da conhecida Procissão das Tochas Floridas de S.Brás de Alportel, no ambiente proporcionado pela exposição de fotografia “Tochas”, de Vasco Célio, em exibição no Museu Municipal de Faro até 4 de Fevereiro.)
Museu Municipal de Faro
Praça Dom Afonso III 14, 8000-149 Faro
dia 2 de Fevereiro, sexta-feira às 19h00
Com a preciosa participação do Dr. Emanuel Sancho (Director do Museu do Traje de S.Brás de Alportel), do artista Vasco Célio, do Dr. Marco Lopes (Director do Museu Municipal de Faro), e do curador da exposição Vasco Vidigal (Artadentro).
No seguimento do grande interesse sobre a Procissão das Tochas Floridas de S.Brás de Alportel, suscitado pela exposição de fotografia “Tochas” de Vasco Célio (em exibição no Museu Municipal de Faro até 4 de Fevereiro), e dada a generosidade manifestada pelo Dr. Emanuel Sancho, Director do Museu do Traje de S. Brás de Alportel, quando a convite do director do Museu Municipal de Faro se disponibilizou a ser o principal dinamizador duma conversa sobre o referido tema.
Assim, a 2 de Fevereiro, na mesma sala em que se exibem as fotografias do Vasco Célio, todos os interessados poderão beneficiar do conhecimento sobre as tradições do concelho de S. Brás de Alportel e, especialmente sobre a conhecida Procissão das Tochas Floridas, que nos oferece o Dr. Emanuel Sancho. Também aqueles que se interessem por fenómenos em volta da criação artística, poderão questionar o próprio autor, o Dr. Marco Lopes ou o curador da exposição, Vasco Vidigal.
Esta tertúlia, aberta a todos os interessados, que esperamos animada e participada, sublinha o interesse geral pela cultura algarvia, bem como o contributo potencial da arte contemporânea na compreensão das várias dimensões da nossa sociedade.
VASCO CÉLIO
TOCHAS
de 9 de Dezembro de 2017 a 4 de Fevereiro de 2018
Museu Municipal de Faro
A exposição de fotografia Tochas, de Vasco Célio, é a segunda que apresentamos no âmbito do ciclo de arte contemporânea Um Certo Ponto de Vista: um projecto Artadentro que integra o programa cultural 365 Algarve.
Desde a sua origem, a humanidade tem procurado estratégias para combater as angústias da finitude e da morte. Esta disputa contra o transitório e o efémero encontrou expressão nas mais diversas manifestações artísticas. De todas elas, a fotografia, de acordo com André Bazin, é a que mais eficazmente tem permitido a salvação do ser pela sua aparência.
Em Portugal, o primeiro anúncio da consecução fotográfica relata bem o fascínio perante a possibilidade de embalsamação de um instante fugaz: [SIC] “O invento, ou descubrimento de que vamos fallar, merece um e outro titulo; a natureza e o engenho do homem, podem ahi apostar primasias. A natureza apparece retratando-se a si mesma, copiando as suas obras assim como as da arte, não em paineis presenciaes, inconstantes e fugitivos, como eram e são os rios, os lagos, as pedras e metaes polidos, mas em matéria que retém o simulacro do objecto visível e o fica repetindo com a mais cabal semelhança ainda depois de ausente…” (O Panorama, Jornal litterario e instructivo da Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Uteis, 16 de Fevereiro de 1839).
O corpo de trabalho aqui exposto, Tochas, de Vasco Célio, documenta o ritual pascoal da chegada dos homens com as suas tochas, para participarem na cerimónia da Procissão das Tochas Floridas na vila algarvia de São Brás de Alportel.
Conta-se que, há cerca de dois séculos, perante a aproximação de uma frota invasora e do perigo do saque, da destruição e da morte, os habitantes de São Brás de Alportel se socorreram de um ardil: à noite, ao longo da costa de frente ao mar, de tochas acesas nas mãos e outras enfileiradas cravadas no chão, convenceram o inimigo de que eram numerosos e estavam preparados: assim os fizeram cancelar o desembarque e seguir caminho. O estratagema foi perpetuado na forma ritual e estas fotografias, “painéis-matéria”, retêm e actualizam essa cerimónia, na justa medida em que o ritual o faz.
Para além do carácter intemporal, as imagens destes homens fotografados contra o branco redentor da cal remetem para uma longa tradição fotográfica, na qual encontramos referências, pistas de leitura, afinidades: desde a Straight Photography à candura encantadora dos retratos de António Gonçalves Pedro, ou à sobriedade desarmante dos retratos de Rineke Dijkstra. As nove fotografias aqui apresentadas, porção de uma recolha muito mais extensa, realizada pelo autor entre 2011 e 2017, assaltam-nos na sua monumentalidade, olham-nos de frente à escala real e parecem dizer-nos, “estamos aqui agora, como estivemos há mais de quatro séculos, para enfrentar a morte de frente, com luz e flores”. Afinal, que mais é a fotografia, senão um desafio ao efémero, através da luz?
Daniela Garcia
Sobre o artista:
Vasco Célio é natural do Lubango em Angola donde, recém-nascido, vem com a família para Portugal. Desde então, reside e trabalha em Loulé no Algarve, região onde se tem afirmado como fotógrafo profissional e como artista. Estudou História da Fotografia de Publicidade, Fotojornalismo, fez Pós-Graduação em Artes e Programação Cultural no INUAF em 2007. Posteriormente participa em workshops de vídeo, de fotografia para cinema e, entre 2009 e 2012, frequenta Mobile Home (projecto de formação artística desenvolvido por Nuno Faria em Loulé). Desde 1996, participa em exposições individuais e colectivas em Portugal e no estrangeiro, bem como em projectos de colaboração com outros artistas.